Book 15 anos BH
Lá em casa tem um poço, mas a água é muito limpa...
Por diversas vezes eu me pergunto se sou a melhor mãe que eu posso ser. Eu quase não tenho tempo para nada, mas o pouco tempo que tenho é para estar com minha família.Tenho dois adolescentes em casa. O tempo que temos é pouco também. Sou viciada em trabalho porque amo o que faço. Mas estar com minha família é o que me emociona e me alimenta a alma.
Se me perguntarem qual o momento mais lindo que já vivi, eu já tenho a resposta na ponta da língua:
Um dia, descendo uma ladeira do bairro Prado com meu marido ao lado e meus filhos no banco de trás, eles começaram a cantar uma música muito bonitinha e simples do compositor Xangai, chamada "Meninos". Aquele foi o momento mais maravilhoso para mim e só de lembrar meus olhos se enchem de lágrimas de tanto amor.
Cantaram os três, felizes, despretensiosamente. Eu descia a ladeira e pensava: "que momento mágico, meu Deus".
A voz de Júlia dava o tom delicado. E Daniel cantava também sem saber a letra direito. E Marco coordenava a cantoria. Eu eu chorava por dentro porque nada no mundo foi mais lindo que aquilo.
A gente tem de saber ser grata pelas pequenas coisas. Essas coisinhas corriqueiras que acontecem aí com a gente todos os minutos. Um vento que bate na janela num dia de calor. Uma chuva que cai quando a terra está completamente seca. Uma música que toca no rádio quando o coração da gente está apreensivo e cheio de ansiedade. Um beijo de boa noite. Um cheiro de feijão sendo cozido fresquinho.Um passarinho cantando às sete horas da manhã na árvore em frente à janela.
Sou grata.
Tenho tudo o que preciso. E hoje sei que não preciso de muita coisa. Vejo tanta coisa por aí sem sentido e cada vez mais encontro o sentido para minha vida: ser uma pessoa melhor a cada instante. Esse é o propósito!
Eu sei que esses dois adolescentes complexos que ainda moram aqui comigo são adolescentes complexos que ainda moram aqui comigo e um dia vão embora. Mas eles saberão de alguma forma que eu tentei dar o melhor de mim para eles. Que por mais difícil que a vida fosse, eu tentei mostrar a eles o valor das coisas simples.
Se vão aprender ou não, não cabe a mim saber. Eu sei que o poço que eu tenho aqui em casa tem água muito limpa e eu sei o quanto será maravilhoso para eles acharem outros poços, não tão limpos, que eles possam limpar com o conhecimento que têm.
15 lindos anos: Viviane Avalon | Fotografia: Adriana Gonçalves