Como meu olhar já está mais do que condicionado, presto atenção em todos os detalhes da fotografia dos filmes que vejo, percebendo a luz de cada cena, enquadramento, ângulo, tudo. É natural para mim. Numa das cenas desse filme, atentei para a composição da luz. É uma cena (ou várias cenas) em que acontece o romance entre o adolescente e a mulher mais velha no apartamento dela: ambiente frio, pobre, a pele dos personagens muito branca, ou seja, um ambiente nada estimulante para uma cena de amor. Mas aí entra o talento do diretor de fotografia: ele colocou na janela uma cortina vermelha. TUDO MUDOU!!!!!! A luz que entrava pela janela foi filtrada pelo tecido vermelho e, refletida sobre a pele dos personagens, "esquentou" a cena. Tenho certeza de que poucos perceberam isso porque foi uma sutileza, um detalhe, um quase nada.
Como fotógrafa, não gosto de compor cenas. Creio que a naturalidade sempre dá melhores resultados. Por isso, se fosse eu a diretora de fotografia desse filme, jamais teria a sabedoria de pensar numa coisa tão simples e que fez toda a diferença.
Abaixo: meu grilo manequim. A cena não foi composta. Esse bichinho esquisito aí ficou um bom tempo deixando-se ser fotografados sobre o chinelo rosa, que virei, revirei, virei de novo à procura da melhor luz. Imediatamente após o ensaio, o grilo se foi. Tarefa cumprida. Depois eu pago o cachê.
Por quê? Conheci o trabalho de Annie Leibovitz a pouquíssimo tempo. Um amigo emprestou-me um DVD com um documentário sobre ela. Mais uma vez apaixonei-me. Annie literalmente pinta com a luz. Iniciou-se na fotografia fazendo trabalhos para a revista Rolling Stones. Da convivência com grandes astros no auge da década de 70, Annie passou a fazer retratos que nunca se pareceram retratos: são obras eternas. Uma delas: John e Yoko, inesquecivelmente unidos.
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