O livro Leite derramado, do autor Chico Buarque, fez-me pensar que a vida é realmente um longa metragem cujo roteiro na íntegra só Deus conhece. E na velhice, guardadas na memória voltam em forma de flashes, de imagens em sequências lógicas ou não. Não é assim que acontece conosco, velhos ou não? Lembramo-nos de acontecimentos espaçados no tempo como se o passado fosse um grande álbum de fotos coladas definitivamente?
Li e releio trechos belos. Compartilho um deles:
"Ouço ruídos de gente, de vísceras, um sujeito entubado emite sons rascantes, talvez queira me dizer alguma coisa. O médico plantonista vai entrar apressado, tomar meu pulso, talvez me diga alguma coisa. Um padre chegará para a visita aos enfermos, falará baixinho palavras em latim, mas não deve ser comigo. Sirene na rua, telefone, passos, há sempre uma expectativa que me impede de cair no sono. É a mão que
me sustém pelos raros cabelos. Até eu topar na porta de um pensamento oco, que me tragará para as profundezas, onde costumo sonhar em preto e branco."
Abaixo: Os passos delicados de Cíntia.
Ao som de: Luz negra by Feranda Takai
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