Peixe cego

Recentemente, tive a maravilhosa oportunidade de assistir ao filme “O escafandro e a borboleta”. Trata-se da história de Jean-Dominique Bauby, editor da revista francesa Elle, que sofre um derrame cerebral e perde todos os movimentos do corpo. O único movimento que lhe resta é o do olho esquerdo. Por isso, ele passa a se comunicar com o mundo por meio de piscadas associadas ao alfabeto. E, dessa maneira, escreve um livro.
Não é um roteiro inédito, nem tão inovador. O mais interessante do filme e o que mais me comoveu foi a percepção de que a mente cheia de vitalidade estava presa no corpo imóvel. Jean-Dodo tinha pensamentos belíssimos, repletos de poesia e filosofia. Certamente, ele pensou muito mais, pois o que assistimos no filme é apenas aquilo que ele conseguiu “relatar”, “traduzir” nas estressantes seções com sua intérprete. Certamente, ele pensou muito mais...
Então, podemos dizer que o pensamento é linguagem? Que meus professores de lingüística e semiótica do saudoso curso de Letras não visitem esse blog jamais, pois o que escrevo aqui não tem nenhuma fundamentação teórica. O que acho: pensamento é linguagem escrita e falada do lado de dentro do corpo.
Mas tudo isso é muito complexo e o que eu queria mesmo era dizer a vida deve ser respeitada em todas as suas manifestações. Do lado de dentro, há pensamentos, sentimentos, desejos, linguagens, ou seja, todos nós somos um universo por dentro.
Aqui em casa, temos uma peixinha que está cega (na verdade não sei bem se é fêmea ou macho, mas minha filha Júlia a batizou de Clarinha há mais de três anos). Ela já não enxerga há quase um ano e já não consegue usar bem as nadadeiras. Não sei se ela pensa ou sente. Isso realmente não importa. Ela existe e, por isso, merece ser tratada com muita dignidade.
Abaixo: Clarinha com seus limites.

02/03/2009 - Clarinha faleceu.


1 comentários:

  1. Então... a Clarinha era na verdade o Clarinho, era um betta macho. dá pra saber pelo tamanho da cauda e das nadadeiras, no macho é maior, na fêmea é curto e arredondado. E o fato de ser cego não interfere em nada, ontem mesmo comprei um Kinguio, daqueles peixinhos dourados que sempre mostra na televisão num aquário redondo e sem bomba (absurdo, esse tipo de peixe não sobrevive sem bomba). Então, ele é um belo exemplar, mas quando cheguei em casa eu vi que ele é ceguinho dos dois olhos, o que não o impede de comer nem de perseguir outros peixinhos!!! A primeira coisa que ouvi aqui é: "Leva pra trocar" e eu disse "Só porque ele é cego? E o que que tem?" Acho que esse mundo não melhora por que as pessoas se apegam a "detalhes", fazem discriminações... Se são assim com os animais, imagina com os da própria espécie...

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